sábado, 9 de abril de 2011

a alicate.

sexta-feira anoitecendo e eu largada num café, bancos vermelhos cegando minha vista e um expresso queimando minha língua; não que haja caso sério nem adultério, só caminho amortecida pelas ruas apinhadas, acostumada com esse gosto de nada que tem a solidão abafada pelas batidas apressadas do meu coração, fingir qualquer coisa e depois esconder a cara debaixo do travesseiro, manchando o lençol com rímel salgado, meus hematomas berraram, minhas proteções se estouraram e nem olhos cegos se escancararam.
eu quis morrer por alguém que me invade desumano, que quebra a voz mais aguda de mim que pede por carinho, só por carinho, meu anjo, mesmo que de faz de conta, mesmo que quando eu caia, a mão que me salva suma e eu fique nua diante dessa altura que me assusta.
a saudade apodrecida me comia inteira e a porta nem ao menos estava fechada, encostada, entreouvia minha agonia e que não trazia o socorro que meu gemido pedia, que estraga minha carne e agoura meu trago, eu só cansei de gritar e preciso demasiadamente de alívio. trancada no meu mundo, o que escorre de mim é escuridão moribunda que clama por amor: por que, por que, meu deus, por que ele se fez tão desmedidamente presente quando o que mais sabia é que iria embora ?



"porque, vê, eu sabia que estava entrando na bruta e crua glória da natureza. seduzida, eu no entanto lutava como podia contra as areias movediças que me sorviam: e cada movimento que eu fazia para 'não, não!', cada movimento mais me empurrava sem remédio; não ter forças para lutar foi meu único perdão." - clarice lispector, a paixão segundo G.H.

6 comentários:

Fil. disse...

Tua sexta feira foi a minha sexta feira.

E você citou meu livro de cabeceira *-*
beijos desentranhandos da minha alma que anda com tanta ressaca do mundo.
Na verdade, só a sombra do beijo.

Mariana Cotrim disse...

quases. entres. nem a inquietação da raiva e nem o vazio do nada.
precisar de alívio? bem vinda ao clube amiga. :/

Marcelo R. Rezende disse...

"por que ele se fez tão desmedidamente presente quando o que mais sabia é que iria embora ?"

Esse trecho me marcou.

Beijo, sua linda.

Luana' disse...

muito lindo aqui (:
eei, te indiquei um Selo, passa no meu blog pra pegar !
http://luanavanessacs.blogspot.com/
beeijinhoos

. disse...

Que o expresso não mais queime minha língua, mas queime os resquícios das lembranças. Caminho não mais amortecida, mas delirando sem razão alguma. A solidão amarga, desliza sobre minha alma, sufocando completamente, os lençóis completamente manchados de lágrimas. Eu quis morrer, sim, eu também quis. Porque a saudade não só me comeu, como me deixou aos restos pelo chão... Porque? Porque? Eu também me indago querida Veronica. Céus, porque? Porque se fez presente se sabia que nunca mais voltaria ao mesmo lugar..

ah Veronica, mal conseguem me pegar as lágrimas, mas teu trecho hoje fez isso comigo, ando tão aos poros, e eu não seique ligação temos, mas nossos corações entendem nossas dores perfeitamente.
Estou chorando, é real. Isso me faz sentir um pouco de vida. Me faz sentir oque tu escreveu ai, 'pra mim'.
Obrigad, a você e amim, que estamos de alguma forma ligadas, e nos entendemos.

''por que, por que, meu deus, por que ele se fez tão desmedidamente presente quando o que mais sabia é que iria embora ?''

Beijos.

Julia disse...

Oiie veronica
Adorei seu blog